Simonton Rios
Poluição Sonora
A poluição sonora e os efeitos na saúde: um dos maiores problemas da vida moderna.
Desde o momento em que é acordado pelo despertador, logo pela manhã, até quando se recolhe para um merecido descanso após um dia de trabalho, o morador de uma grande cidade sofre um verdadeiro bombardeio. Trata-se de uma guerra invisível, mas nada silenciosa.
Quando o engenheiro George Stephenson venceu a primeira corrida de locomotivas da Inglaterra, em 1829, iniciou-se uma revolução que mudou totalmente o mundo. Esse foi um dos primeiros eventos da revolução industrial e o começo de profundas mudanças econômicas, quando a produção saiu de um sistema artesanal para o processo de mecanização da indústria. Essa drástica mudança trouxe evidentemente muitos benefícios para as populações, mas também gerou grandes problemas.
Com o crescimento desordenado das cidades e o surgimento das grandes indústrias, as pessoas passaram a conviver com a poluição, um problema para o qual não estávamos preparados e que, com o tempo, tornou-se cada vez mais grave. Esse fato pode ser constatado observando-se a situação de rios, lagos e das próprias metrópoles.
Nesse cenário, um outro tipo de poluição que não pode ser visto e com o qual as pessoas de certa forma se acostumaram pode ser considerado um dos maiores problemas da vida moderna: a POLUIÇÃO SONORA.
Um estudo realizado pelo professor Fernando Pimentel de Souza, titular de Neurofisiologia da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais e doutor em Psicofarmacologia pela Escola Paulista de Medicina mostra que, além do incômodo natural que o barulho excessivo causa, há uma série de outros efeitos que, com o tempo, vão minando a resistência e a saúde das pessoas. Um dos dados levantados por uma pesquisa realizada por Cantrell em laboratório, nos Estados Unidos, ainda em 1974, mostrou em jovens aumentos médios de 25% no colesterol e 68% no cortisol no sangue com ruídos comuns nas cidades. Também no Brasil há uma grande incidência de males causados pelo exesso de ruído. A maioria dos habitantes das cidades mais ruidosas apresentam um agravamento ou aparecimento de arteriosclerose, problemas do coração e de doenças infecciosas devido à queda da resistência imunológica do organismo entre outras complicações, além de problemas mentais e psicológicos. Uma pesquisa da Escola Paulista de Medicina, realizada em 1992, confirmou que cinco entre cada dez paulistanos possuem um nível excessivo de colesterol. No estado de São Paulo, o estresse auditivo constitui a terceira maior causa de incidência de doenças do trabalho, só atrás daquelas geradas por agrotóxicos e das doenças articulares, enquanto na França é a primeira.
Em seu trabalho, intitulado "A Poluição Sonora urbana no trabalho e na saúde", Alvares & Pimentel-Souza fizeram uma avaliação da poluição sonora urbana em 1988, tomando como objeto de estudo Belo Horizonte (MG) e levantando os efeitos sobre o sono e a saúde em geral. Os números mostram algumas situações interessantes. Para levantar a situação externa nas vias públicas, por exemplo, mediu-se o Leq-nível médio diurno de ruído externo do tráfego de veículos na capital mineira sem barulhos industriais e outros ocasionais mais elevados. Após um amplo diagnóstico por todas as zonas residênciais, comerciais e industriais da cidade, chegou-se a uma média de 69,5 dB(A) - decibéis. "Esses pontos foram colocados sobre um mapa geográfico da cidade, traçados as linhas isofônicas com a ajuda de um programa de computador, resultando um primeiro mapa acústico.", explica Pimentel-Souza.
Os números levantados pelo pesquisador apontam situações curiosas. A Zona Industrial, por exemplo, apresenta um Leq de 66,7dB(A), quase 3dB(A) abaixo da média, enquanto a média das oito zonas residenciais tradicionais, às quais se incorporam alguns bairros considerados nobres, o nível de ruído foi o mesmo. Por sua vez, as zonas comerciais pesquisadas mostraram um nível médio de ruído de 73,dB(A), ou seja, mais de 4dB(A) acima da média. "Apesar de classificadas como comerciais, muitas dessas regiões são tipicamente residenciais e mereceriam melhor proteção.", aponta Pimentel-Souza. Mais preocupante ainda é o fato de os 21 pontos mais graves, onde estão localizados hospitais e escolas, mostrarem um Leq acima de 79dB(A).
O ruído de trânsito de veículos automotores é o que mais contribui na poluição sonora e cresce muito nas grandes cidades brasileiras, agravando a situação. Os níveis sonoros tendem a se aproximar quando o trânsito se iguala, tanto em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte ou outra grande cidade do país.
"Nessas metrópoles se encontram artérias despreparadas, cercadas com paredões arquitetônicos, trepidando de veículos automotores ultrapassados e pessoas inconscientes dos malefícios.", alerta Pimentel-Souza. Ele afirma ainda que a topografia acidentada de Belo Horizonte agrava o ruído do trânsito, mas, ainda assim, Rio de Janeiro e São Paulo continuam mais aglomeradas, aprisionando mais o ruído, com um trânsito mais denso.
Os efeitos perturbadores do ruído.
O sono possui funções importantes para a saúde humana, como psicológicas, intelectuais, de memória, de criatividade, de humor menos que o organismo necessita, existe uma sensível queda no rendimento das pessoas. "Os operários de turnos noturnos geralmente possuem um sono de má qualidade no período diurno, devido aos conflitos sociais e excesso de ruído nesse período, provocando aumento de sonolência no período de trabalho noturno, muitas vezes incontrolável e responsável pelo maior número de acidentes entre 3 e 5 horas da manhã", relata Pimentel-Souza.
Segundo a OMS - Organização Mundial de Saúde, ruídos com 45dB(A) de intensidade já causam distúrbios ao sono. Ainda segundo a OMS, 65dB(A) é o limite considerado tolerável, mas já causa distúrbios no aprendizado, enquanto 120dB(A) é o limite para a surdez neural. Atualmente, cerca de 5% das insônias são causadas por fatores externos, principalmente pelo ruído. Um dos indicadores da má qualidade de vida ambiental no Brasil foi revelado em uma pesquisa realizada em 1988, na cidade de São Paulo, onde 14% das pessoas atribuem suas insônias a fatores externos, das quais 9,5% exclusivamente ao ruído. "O ruído, através do estresse diurno e noturno, deve causar também menor higiene do sono, cujos efeitos são traiçoeiramente despercebidos pelas pessoas por não terem efeitos imediatos e não deixarem rastro visível.", argumenta Pimentel-Souza.
A perda da audição, o efeito mais comum associado ao excesso de ruído, pode ser causada por várias atividades da vida diária. Há, por exemplo, perda de 30% da audição nos que usam walkmen, toca-fitas ou laser disc durante duas horas por dia durante dois anos em níveis próximos de 80dB(A). Calcula-se que 10% da população do país possua distúrbios auditivos, sendo que, desse total, a rubéola é responsável por 20% dos casos. "É comum concontrar-se o nível de 70dB(A) no meio urbano, onde o brasileiro é obrigado a falar 30 vezes mais elevado que o necessário, o que dificulta a comunicação, além de causar surdez ambiental.", constata Souza. O ruído industrial, além da perda orgânica da audição, provoca uma grande variedade de males à saúde do trabalhador, que vão de efeitos psicológicos, distúrbios neuro-vegetativos, náuseas e cefaléias, até redução da produtividade, aumento do número de acidentes, de consultas médicas e do absenteísmo.
140dB = Limite da audição; 110dB = Danos permanentes à audição; 90dB = Danos ao sistema auditivo; 80dB = Aumento dos batimentos cardíacos, descarga de adrenalina no organismo e hipertensão; 75dB = Irritação e desconforto; 70dB = Limite do considerado seguro / Distúrbios no aprendizado; 55dB = Distúrbios do sono; 35dB = Interferência nas conversas em ambiente fechado.
Materiais de absorção acústica, como a espuma Espumex, podem ser aplicados em casas de espetáculos, teatros e escritórios. Os materiais de absorção acústica são amplamente aplicados em ambientes onde a qualidade acústica é imprescindível, como estúdios de gravação.
Revista MEIO AMBIENTE INDUSTRIAL - Editora Tocalino - Ano VI - Edição 31 - Nº 30 - Maio/Junho de 2001 - páginas: 82 a 88