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Orquestra

Quando alguém pensa num exemplo de empresa modelo, a comparação vem naturalmente: "Tem que funcionar como uma orquestra!" Não é absurdo imaginar que o inverso também possa ser verdadeiro. Por diversos motivos, uma orquestra competente identifica-se com uma empresa que deu certo. Nesse caso, é provável que, tanto para a empresa quanto para a orquestra, a chave do sucesso tenha um nome - afinação, entendida aqui como espírito de conjunto, disciplina e talento.

"Para participar de uma orquestra de alto nível, não basta o músico conhecer e tocar bem apenas o seu próprio instrumento; é preciso que ele saiba também como os outros instrumentos se combinam e se integram na sinfônica", pondera o violinista Igor Sarudiansky. Talvez os leigos imaginem que é complicado demais entender como funciona esse conjunto formado por quatro famílias, ou naipes, de instrumentos, cada um deles dirigido por um músico, conhecido como primeiro solista. Parece complicado, mas na verdade não é. Basta o interessado ter curiosidade e disposição para ouvir esse tipo de música, que alguns chamam de clássica e outros de erudita. Evidentemente, o prazer de ouvi-la está implícito.
Segundo Roberto Minczuk, ex-trompista da Orquestra Gewandhaus de Leipzig, na Alemanha, e hoje regente da Osesp, da Sinfônica de Ribeirão Preto, e da Filarmônica de Nova York; "A trompa é um dos instrumentos mais difíceis de tocar e seu timbre, belíssimo, produz uma variedade de sons, que vão do redondo e aveludado ao metálico e vibrante."
Para que você entre nessa viagem sonora da Orquestra Sinfônica, é necessário que 
localize com precisão os instrumentos no palco. Em primeiro plano, verá as cordas.
Mais atrás, os sopros de madeira e, depois, os sopros de metal. Finalmente, ao fundo,
a percussão. Essa distribuição obedece a uma lógica. As cordas e madeiras - mais suaves- alinham-se à frente dos metais e da percussão para não serem encobertas por estas, que geram timbres fortíssimos. Além disso, há uma hierarquia instrumental na sinfônica.
As cordas (violinos, violas, violoncelos, contrabaixos) são a espinha dorsal. O primeiro violinista é também chamado de "spalla", de espádua, que significa ombro em italiano. 
Depois do regente, o "spalla" é o comandante de toda a orquestra. "Os violinos (à esquerda do regente) abrangem uma faixa de possibilidades sonoras mais ampla que a dos sopros (madeiras e metais). As violas (à frente do maestro) são um sétimo maior que os violinos e ligeiramente mais pesadas que eles. À direita do regente, ficam os violoncelos. Por terem cordas mais longas e grossas e serem maiores que o violino e a viola, eles produzem um som cheio e penetrante. 
Os "Cellos" (à direita do regente), diminutivo do termo em italiano, possuem a maior dinâmica de todos os instrumentos de corda, tanto no piano(suave) quanto no forte. Completando o naipe das cordas, estão os contrabaixos (à extrema direita do regente). Eles funcionam como o alicerce numa construção, são a base harmônica para todo o resto do conjunto. O Contrabaixo, conhecido também pelo diminutivo Baixo, mede quase o dobro do cello. O seu desenho é ligeiramente diferente do formato do violino, da viola e do cello. A parte posterior é plana e as espladas (para apoio) mais inclinadas.

Enquanto os sons produzidos pelas cordas fundem-se em um todo, os do naipe das madeiras (oboé, corne inglês, flauta, flautim, clarineta, clarineta baixo, ou clarone, fagote, contrafagote) são mais distintos, mas individuais, estimulando os compositores a usá-los na criação de sons contrastantes. É a nota lá do oboé que inicia a afinação da orquestra, antes de o maestro erguer a batuta para começar o concerto.

Já os sopros de metal (trompa, trompete, trombone, corneto de pistões, tuba), dispostos num plano atrás das madeiras, são instrumentos de grande efeito.

O tímpano é o único tambor da orquestra a produzir notas de altura definida, porque pode ser afinado por pedais. A membrana do tímpano é esticada sobre uma bacia de cobre. A tensão dessa membrana é regulada por parafusos, nas bordas. Quando a tensão aumenta, soam as notas agudas; quando diminui, soam as graves.

Uma orquestra sinfônica ainda pode ser enriquecida pela inclusão de outros instrumentos, que variam dos teclados aos de sopro, além do piano e da harpa. Mas é a imaginação sem limites dos compositores que se encarrega de abastecê-la com um riquíssimo universo musical a ser desfrutado. Cabe a você dar o primeiro passo para descobri-lo.

Walt Disney, um dos magos do cinema de animação, teve uma idéia, em 1940, que virou um clássico: realizar o filme "Fantasia", um engenhoso espetáculo de entrosamento entre a técnica do desenho animado e a música. Divertido e instrutivo, o filme, de 135 minutos, mais ou menos o tempo de duração de um concerto, é uma maneira agradável de iniciar as pessoas no gosto pela música. Em 1987, foi distribuída uma nova versão do vídeo, com a trilha regravada em dolby estéreo. Um dos destaques do filme é o camundongo Mickey, no segmento dedicado á música "Aprendiz de Feiticeiro", do compositor Paul Dukas. Mas a trilha sonora tem também: "Tocata e Fuga", de Bach; "A Sagração da Primavera", de Stravinsky; "O Lago dos Cisnes", de Tchaikowsky; "Sinfonia Pastoral", de Beethoven; "A Dança das Horas", da ópera "A Gioconda", de Ponchielli; "Uma Noite no Monte Calvo", de Mussorgsky; "Ave Maria", de Schubert; além de Dukas. É fácil encontrar este filme nas videolocadoras.

A palavra "orquestra" vem do grego "orkhestra". 
Designava, na Grécia Antiga, o espaço semicircular, entre a cena e os espectadores, onde o coro (khronos) cantava e executava danças. Os conjuntos de instrumentos são conhecidos desde as primeiras dinastias egípcias. Com o gradativo enriquecimento das formas instrumentais, foi possível dividir os instrumentos em famílias. Isso aconteceu no século 16. no início do século 17, o compositor italiano Claudio Monteverdi ampliou o número desses grupos e sua orquestra chegou a ter 36 participantes. No século 18, o francês Jean-Philippe Rameau aumentou-o para 47, total que se manteve até as últimas sinfonias do austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Com o alemão Ludwig Van Beethoven, a orquestra chegou a ter 60 integrantes. Mas foi com o francês Hector Berlioz que a orquestra se distribuiu da forma como a conhecemos hoje (uma sinfônica, do grego symphonia - combinação de sons), reunindo no palco até 120 músicos.


Revista GALILEU - Editora Globo - Julho 1999 - Ano 8 - Nº 96 - páginas: 68 a 74

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