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Música Brasileira

Parte 1

1500
Era do descobrimento do Brasil - Em abril, chega a esquadra portuguesa de Pedro Alvares Cabral em missão colonizadora, na futura Bahia. Provavelmente os índios excedem 2 milhões de habitantes. As músicas das muitas tribos são executadas em solos e coros, acompanhados pela dança, bater das palmas, dos pés, flautas, apitos, cornetas, chocalhos, varetas e tambores.
1538
Era da economia colonial e das capitanias hereditárias - Chegam os primeiros grupos de escravos trazidos da África para trabalhar na lavoura de algodão, tabaco e cana-de-açúcar. Até o final do período de tráfego de escravos, em 1850, eles serão 3 milhões e meio no Brasil, trazendo suas músicas, danças, idiomas, macumba e candomblé - criando a base primordial de uma nova etapa fundamental na história inicial da música brasileira.
1549
Tomé de Sousa é o primeiro governador geral do Brasil - Chegam as primeiras missões de jesuítas portugueses no Brasil. Além do catolicismo e dos princípios básicos de uma nova forma de civilização, os padres passam a introduzir as noções elementares da música européia aos índios e a apresentar seus instrumentos musicais, num primeiro contato importante de fusão e influências na nascente história da música brasileira.
1600-1700
Era do domínio e das invasões holandesas - Apesar da maioria da população de índios brasileiros ter sido praticamente dizimada pelos colonizadores portugueses, bandeirantes e contendores europeus, a música indígena e seus instrumentos deixam fortes influências em toda formação básica da história da música brasileira que se desenvolve - além de incorporar os primeiros traços da música portuguesa e européia, numa cultura de transição e assimilações permanentes. 1630 - A invasão holandesa em Pernambuco - A cultura musical africana dos escravos negros é preservada e desenvolvida através dos Quilombos - colônias de refugiados que resistem bravamente no interior do Brasil, sendo o de Palmares, no interior do Estado de Alagoas, historicamente o mais importante, que durou um século, após ser destruído em fevereiro de 1694, por tropas do bandeirante Domingos Jorge Velho, após sete anos de ataques ininterruptos. O grande líder do Quilombo de Palmares é Zumbi, morto no ano seguinte. Surgem as primeiras novas formas de uma música afro-brasileira, que desenvolveria o afoxé, jongo, lundu, maracatu, maxixe, samba e outros gêneros futuros. 1650 - Era da abertura do mercado brasileiro aos ingleses pelos portugueses - A colonização portuguesa introduz largamente outros instrumentos europeus sofisticados como a flauta, violão, cavaquinho, clarinete, violino, violoncelo, harpa, acordeon, piano, bateria, triângulo e pandeiro. A partir dos rituais religiosos das missões jesuítas nascem os primeiros cultos folclóricos populares dos habitantes locais como o 'reisado' e o 'bumba-meu-boi'. A música sacra, as melancólicas baladas e as modas portuguesas contribuem para a formação da música brasileira. 1700 - Era das primeiras descobertas de ouro em Minas Gerais - Em meados do século XVIII, surgem, no Rio de Janeiro e Bahia, as lendárias e divertidas músicas de barbeiros . São pequenos grupos musicais compostos de escravos negros barbeiros com tempo disponível para se dedicarem ao aprendizado de velhos e desgastados instrumentos musicais que lhe são passados. Segundo estudiosos, essa seria a primeira verdadeira manifestação de uma música popular brasileira instrumental de entretenimento público. Essas pequenas orquestras ambulantes, também chamadas de 'charangas' ou 'ritmos de senzala', muito requisitadas para festividades e procissões como a do Domingo do Espírito Santo, tocavam flauta, cavaquinho, violas, rabeca, trompa, pistão, pandeiro, tamboril, machete, e interpretavam - muito à sua maneira livre - fandangos, dobrados, quadrilhas, lundus e polcas num repertório bem diverso. Da música desses deselegantes mas charmosos barbeiros descalços, nasceriam os 'ternos', as bandas de coreto, as militares e o choro. Elas existiriam até meados do século seguinte.
1750
O Tratado de Madri reconhece a presença luso-brasileira na ocupação dos novos territórios - Surge até então o mais importante gênero musical - a modinha -, criado em Portugal, e responsável pelos aspectos melódicos e românticos na música brasileira, de grande influência até a Nova República, no início do século XIX. Detalhe: em 1755, Salvador tinha 37.543 habitantes.
1770
Era do Rio de Janeiro como sede do governo geral - A partir dessa década, com o avanço do processo de urbanização, intensifica-se a produção musical religiosa (lírica) na América Portuguesa, no Brasil, também importante para o futuro próximo da música popular, com vários autores nacionais como Inácio Parreiras Neves (1730-1791), Manoel Dias de Oliveira (1735-1813), José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746-1805), Francisco Gomes da Rocha (1754-1808), André da Silva Gomes (1752-1844) e outros.
1780
Portugueses e espanhóis disputam territórios - Outra importante forma musical - consta do primeiro registro escrito de referência do lundu africano no Brasil - gênero musical trazido dos escravos bantos do Congo e Angola -, e que seria amplamente popularizado. O estilo de música é descrito como uma dança lasciva com suas umbigadas. É um dos elementos embrionários de formação do futuro samba.
A partir do começo do século XIX, o lundu apresenta variantes como o miudinho, a tirana tipo espanholada, o fado batido e a chula. Seu apogeu  vai do começo de 1800 à 1920, sendo o músico popular Xisto Bahia (1841-1894) o mais importante compositor do gênero. Detalhe: no Rio de Janeiro, existem 43.400 habitantes.
1786
Início dos preparativos da Inconfidência Mineira - Registro do primeiro grande desfile de carnaval, no Estado da Guanabara, em comemoração ao casamento do Príncipe D. João (futuro D. João VI) com a Princesa Carlota Joaquina. Nos dias 2 e 4 de fevereiro, o tenente Antônio Francisco Soares prepara seis grandes carros alegóricos - Cavalhadas Sérias, Baco, Cavalhadas Jocosas, Mouros, Júpiter e Vulcano - todos ricamente desenhados e ornamentados com alguns deles soltando fogos e jorrando vinho aos milhares de presentes. Os carros são puxados por cavalos e burros, com muitos elementos de harmonia, comissão de frente, fantasias, alegorias e os embrionários passistas. Mas, os desfiles de carnaval já eram conhecidos desde meados do século XVII.
1831
I Reinado: em 7 de abril ocorre a abdicação de Dom Pedro I - Os grandes proprietários latifundiários criam a Guarda Nacional, cujos músicos militares fardados passam a incluir em seus repertórios oficiais, além dos
hinos-marchas e dobrados, trechos de música popular e de música clássica. Surgimento dos Coronéis do Sertão nordestino.
1840
Regência: a Revolta dos Farrapos, do Rio Grande do Sul à Santa Catarina - Primeiro baile de máscaras, no Rio de Janeiro, no dia 22 de janeiro, no baile do Hotel Itália, na posterior Praça Tiradentes, numa bem-sucedida
tentativa da alta sociedade da época, de D. Pedro II, de importar o estilo do carnaval de salão de Veneza.
1845
II Reinado: a Marinha Inglesa persegue navios negreiros - No dia 3 de julho, é apresentada pela primeira vez a polca, no Teatro São Pedro, no Rio de Janeiro. Dança rústica da Boêmia - parte do império austro-húngaro e atual província da Checoslováquia, a polca chega à capital Praga em 1837, e se transforma em dança de salão. Depois da apresentação brasileira, a polca vira a nova febre carioca com a formação da Sociedade Constante Polca, em 1846. Além de dança de salão, o gênero invade teatros e ruas, tornando-se popular através dos próximos grupos de choro e grupos carnavalescos. Os maiores compositores de polca são Ernesto Nazaré (1863-1934), Callado (1848-1880), Anacleto de Medeiros (1866-1907), Irineu de Almeida (1890-1916), Henrique Alves de Mesquita (1830-1906) e Miguel Emídio Pestana (fins do séc. XIX e inícios do séc. XX). Foi o gênero básico de apoio para outras fusões musicais com o lundu, o fadinho e os motivos militares.
1859
Era do fim do tráfico de escravos - Surgem os primeiros bondes puxados à cavalo, no Rio de Janeiro, que passariam a integrar definitivamente as multifacetadas culturas populares e musicais dos diversos bairros e lugarejos da grande cidade, transformando a expressão musical local num enorme caldeirão de novos estilos e experimentos, principalmente com relação ao carnaval. Em 1892, surgem os primeiros bondes elétricos. Eles exercem uma forte influência de inspiração musical para compositores populares e o teatro de revista. Já totalmente suplantados pelo automóvel, que cresceria em importância como meio de transporte nos anos 30, os bondes desapareceriam em 1964, quando a cidade do Rio de Janeiro é toda pavimentada para as festividades de seu IV Centenário. Início do apogeu das fazendas de café - Influenciado pelas revistas européias, surge, no Rio de Janeiro, os teatros de revista - gênero que mistura teatro com música e dança, e que aborda os principais fatos da época de forma crítica, humorística, despojada e irreverente. O primeiro espetáculo do gênero - 'As Surpresas do Sr. José da Piedade', de autoria de Justino de Figueiredo Novais - estréia em 15 de janeiro de 1859, no Teatro Ginásio. Artur Azevedo (1855-1908) seria o maior nome do novo meio e responsável por dar ao gênero um estilo realmente brasileiro, consolidando-o já em 1880, quando se tornaria veículo importante de difusão da música popular nacional. Além da maestrina Chiquinha Gonzaga com o enorme sucesso de seu tango brasileiro "Gaúcho", outros grandes compositores maestros passaram pelo teatro de revista como Nicolino Milano, Paulino Sacramento, Antônio Sá Pereira, Sofonias Dornelas, Bento Mossurunga e outros. A partir de 1920, o gênero começaria a decair diante do rádio, dos cinemas-teatros e dos shows musicais propriamente ditos.

1870
Lançado o Manifesto Republicano presidencialista, no Rio - Data de registro do primeiro rancho carnavalesco surgido no bairro da Saúde, no Rio de Janeiro, de nome Reis de Ouro, formado por nordestinos, antigos escravos e filhos de escravos baianos. Pioneiros da época ainda relataram o Rancho da Sereia, formado por sergipanos e alagoanos, rivais dos baianos, como o rancho anterior ao Dous de Ouro. Os ranchos carnavalescos surgiram inspirados nas procissões folclóricas religiosas dos Ranchos dos Reis Nordestinos. Por volta de 1890, existem mais de dez ranchos carnavalescos cariocas. A partir de então, esboça-se os primeiros traços do samba através do batuque de origem africana. Período posterior à Guerra do Paraguai - Em 19 de março, na Itália, estréia no lendário Teatro Scala de Milão, a obra máxima do maestro-compositor brasileiro paulista Carlos Gomes (1836-1896) - a ópera O Guarani -, baseado na romance de José de Alencar, com libreto inicial do poeta Antonio Scalvini, concluído por Carlo d'Orneville. O sucesso e impacto de O Guarani levou o compositor e maestro Giuseppi Verdi ao comentário entusiasmado de que Carlos Gomes era de fato um "vero genio musicale". Depois de encenada 12 vezes no Scala, a ópera percorre toda a Europa com grande sucesso. Com ela, pela primeira vez, nascia o Brasil para o mundo musical . Em 2 de agosto, Carlos Gomes regressa ao Brasil como um verdadeiro herói, e prepara sua ópera - já com a famosa protofonia, não apresentada na Europa, e que se tornaria como um segundo hino nacional - no Teatro Lírico Fluminense, no dia 2 de dezembro, em homenagem ao aniversário de Dom Pedro II. Carlos Gomes foi, sem dúvida, o maior compositor das Américas no século XIX.
1875
Império: primeiro choque entre a maçonaria e a hierarquia católica pelo poder - Diretamente da então Cidade Nova e dos lendários cabarés da Lapa, no Rio de Janeiro, nasce o maxixe - a primeira dança de par e gênero musical modernos genuinamente brasileiros. Ele surge da mistura do lundu com o tango argentino, a habanera cubana e a polca. O maxixe foi considerado tão escandaloso e polêmico quanto o lundu há quase 100 anos atrás pela extrema sensualidade de sua dança e pelo uso freqüente da gíria carioca quando cantado. A complexidade de seus passos parafusos, quedas, saca-rolha, balão, corta-capim, carrapeta (etc.), marcaria o fim do gênero musical em meados do século seguinte. Detalhe: as quadrilhas se transformam em exclusivas e pitorescas danças folclóricas de São João.
1880
Criação da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, no Rio - No Rio de Janeiro, acontece a época áurea dos 'entrudos' (do latim introitus), uma herança genuinamente portuguesa dos primeiros blocos de foliões de rua (formados pela população migratória rural nordestina) que antecede e prenuncia o surgimento dos blocos de carnaval, inicialmente conhecidos como cordões. 
Os arruaceiros entrudos não são bem aceitos - pela nova sociedade carioca que se estabelece - pela violência de suas manifestações, cujos participantes esguicham jatos d'água em bisnagas, jogam baldes d'água, limões de cheiro e atiram farinha na cara dos transeuntes como forma de diversão. O país é tomado pela causa abolicionista - Surge o choro (chorinho), no Rio de Janeiro, através de pequenos grupos instrumentais formados por modestos funcionários dos Correios e Telégrafos, da Alfândega e da Estrada de Ferro Central do Brasil, que se reúnem nos subúrbios cariocas com suas flautas, cavaquinhos e violões. A mágoa e a nostalgia deram o nome ao gênero, sendo a improvisação sua condição básica. No começo da República, outros instrumentos seriam incorporados. 
As festas das quais os chorões participavam já eram chamadas de pagodes. Os músicos Joaquim Antônio da Silva Callado (1848-1880) e o flautista Viriato Figueira da Silva (1851-1883) são dois de seus criadores. Outros grandes chorões: Chiquinha Gonzaga (1847-1935), Anacleto de Medeiros (1866-1907), Irineu Batina (1890-1916), Mário Cavaquinho (XIX-XX), Sátiro Bilhar (?-1927), Candinho Trombone (1879-1960), Ernesto Nazaré (1863-1934) e Pixinguinha (1897-1973). Esta é também a época das serenatas de fins de noite.
1889
Proclamação da República pelo marechal alagoano Manuel Deodoro da Fonseca, em 15 de novembro, no Rio de Janeiro - Antecedendo o surgimento das orquestras, é a época do apogeu das bandas e fanfarras da República Velha como a Banda do Corpo Policial da Província do Rio de Janeiro, a Banda do Corpo de Marinheiros, a Banda da Guarda Nacional, a Banda do Batalhão Municipal, a popular e sempre simpática Banda do Corpo de Bombeiros (dirigida por Anacleto de Medeiros [1866-1907]) e a Banda do Batalhão Municipal.
1890
Chega o anarquismo trazido por italianos - Surge o frevo em Recife, Pernambuco. Um dos mais importantes gêneros musicais e danças do país. O frevo nasce da polca-marcha e tem sua linha determinada pelo capitão José Lourenço da Silva (Zuzinha), maestro ensaiador das bandas da brigada militar de Pernambuco. Como dança de multidão, o ritmo é frenético e contagiante, de coreografia individual improvisada e inspirada na capoeira, apoiada no uso de sombrinhas e guarda-chuvas. Detalhe: no Rio de Janeiro, a população atingia a marca de 522.651 habitantes.
1899
Época da destruição de Canudos, de Antônio Conselheiro, na Bahia - No Rio de Janeiro, por solicitação dos crioulos integrantes do cordão Rosas de Ouro, a pioneira compositora carioca de classe média Chiquinha Gonzaga (1847-1935) - a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil (em 1885) -, compõe a primeira marcha carnavalesca da história da música brasileira chamada "Ô Abre Alas", um enorme sucesso e de grande influência na consolidação das bases iniciais da música popular brasileira.
1900
Era da presidência de Campos Salles - Depois de um longo período de recusa e hostilização por parte da elite brasileira, os rituais e - principalmente - os ritmos do candomblé e umbanda são oficialmente aceitos como parte integrante da cultura brasileira. Preservam-se as músicas, escalas musicais, instrumentos como agogô, cuíca, atabaque, e suas ricas bases polirítmicas. (era da "política dos governadores") - O Brasil republicano continua recebendo a primeira grande e importante leva de imigrantes europeus e asiáticos como italianos, alemães, japoneses, libaneses, aumentando a miscigenação e a influência musical desses povos em sua música.
1902
Café-com-leite: paulistas e mineiros se alternam no poder - Acontece a primeira gravação para um disco brasileiro, com o famoso tema lundu intitulado "Isto É Bom", escrito pelo músico baiano Xisto Bahia (1841-1894) e cantado por Baiano (Manuel Pedro dos Santos, 1870-1944), para a gravadora Casa Edison.
1910-11
"Revolta dos marinheiros", no Rio de Janeiro - Respectivamente, são construídos os dois dos mais importantes teatros no Brasil - o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e o Teatro Municipal de São Paulo.
1913
Violentos conflitos na divisa de Santa Catarina e Paraná - Em São Paulo, registra-se uma modalidade de samba tipicamente paulista - herdeiro do batuque - chamado Samba-de-Pirapora, ou Samba-de-Campineiro, principalmente em quatro importantes centros urbanos da capital como na Barra Funda, Bela Vista (no Bexiga) - nas festas de Nossa Senhora de Achiropita, no dia 15 de agosto, na Rua 13 de Maio -,  na baixada do Glicério e Bosque da Saúde. A cidade de Pirapora foi o mais importante centro de encontro e difusão do amba paulista - nas festas de Bom Jesus, no mês de agosto -, também conhecido como samba-de-bumbo, onde reuniam-se numerosos úsicos predominantemente negros vindos de Campinas, Barueri, Tietê e cidades vizinhas. Diferente do Rio, em São Paulo, não se usava o samba para os desfiles de carnaval dos cordões e ranchos, mas sim as marchas-ranchos e o choro. Os paulistas somente aderem ao samba, no carnaval, no fim dos anos 20.
1914
Primeira Guerra Mundial - Em São Paulo, no dia 12 de março, é fundado o Grupo Carnavalesco Barra Funda, precursor da Escola de Samba Camisa Verde e Branco, que também ia regularmente aos encontros e festejos de Pirapora, no interior do estado. O pioneiro grupo paulista tinha apenas doze integrantes vestidos de camisas verdes, calças brancas e chapéus de palha - tocavam um pandeiro e chocalhos de madeira com tampinhas de garrafas de cerveja. Início de uma época de revoltas brasileiras - Durante a Primeira Grande Guerra, e pela primeira vez em sua história, a música brasileira chama a atenção da Europa com o estilo embrionário e provocativo do samba - o maxixe -, que se torna um dos maiores sucessos de dança no velho continente até 1922. Embora tenha surgido desde meados do século passado, é somente neste ano que as chamadas canções sertanejas se popularizam entre as classes média e alta, a partir da toada "Cabocla di Caxanga", de João Pernambuco (1883-1947) e Catulo da Paixão Cearense (1886-1946), dois dos maiores nomes na história do gênero. A partir de 1920, o termo é designado por compositores profissionais urbanos para identificar as estilizações de ritmos rurais que abrangiam modas, toadas, cateretês, chulas, batuques e emboladas. De acordo com os primeiros estudiosos do estilo, música sertaneja poderia também compreender o xaxado, o baião e toda manifestação musical das regiões Norte-Nordeste, produzida no sertão e longe da cultura das grandes cidades. O gênero ficaria fortemente associado ao estilo caipira das modas de viola. Dos pioneiros da música sertaneja de raiz, ou música caipira, destacam-se Tonico e Tinoco, Cascatinha & Inhana ("Índia"), Inezita Barroso, Pena Branca e Xavantinho, Alvarenga e Ranchinho, Matogrosso e Matias, Irmãs Galvão, os comediantes Jararaca e Ratinho, Cornélio Pires, Ariovaldo Pires, Raul Torres, Teixeirinha ("Churrasquinho de Mãe") e outros.
1917
Época áurea dos Coronéis do Sertão - Considerado o nascimento oficial do samba, a gravação de "Pelo Telefone", de Donga (1889-1974) e Mauro de Almeida (1882-1956), na voz de Bahiano, alcançou enorme sucesso nacional e estabeleceu novos padrões para as canções de carnaval. Este típico samba carioca, que mistura maxixe com frases rítmicas do folclore baiano, mais tarde espalha-se pelo Brasil e domina o carnaval. Nessa fase, os principais compositores são Sinhô (1888-1930), Ismael Silva (1905-1978) e Heitor dos Prazeres (1898-1966). A partir da década de 20, surgem vários e diferentes tipos de samba. No carnaval da época, o compositor, instrumentista e arranjador Pixinguinha (1897-1973) grava o seu primeiro disco, de maxixes, pela Odeon. Ele é o músico mais importante a estabelecer as bases da música popular e do choro, um recém-criado estilo de música brasileira instrumental (1880) com características de improvisação semelhante à do jazz.
1920
No Rio de Janeiro, quase no final da década, surgem as primeiras escolas de samba, que já haviam sido esboçadas desde o surgimento dos entrudos, dos ranchos carnavalescos e dos cordões fantasiados. A primeira escola de samba - a Deixa Falar - surgiu no Largo do Estácio, no antigo Rio. Surgem também os primeiros moradores das favelas cariocas e do assim chamado 'samba do morro'. Popularizam-se no Rio, e em São Paulo, o gramofone, as vitrolas, as orquestras de cinema mudo, posteriormente o próprio cinema falado e - principalmente - as primeiras gafieiras que tocavam sambas, maxixes, marchas, jazz e valsas. Logo surgiriam as jazz-bands brasileiras como a Orquestra Pan-Americana, American Jazz-Band, de Silvio de Sousa, Jazz-Band Sul-Americana, de Romeu Silva e outras mais. Tudo isso impulsiona em muito a divulgação da música brasileira.
1920-50
Época das Revoltas Tenentistas - Antecedendo a bossa nova, surge o samba-canção, um tipo mais lento, melancólico e romântico, orquestral e instrospectivo do gênero, também conhecido como samba de meio do ano, ou seja, aquele lançado depois dos sambas de carnaval. Sob forte influência do bolero, o samba-canção se firmaria mesmo a partir de 1930. Seus primeiros compositores foram Joubert de Carvalho, Henrique Vogeler, Hekel Tavares e Sinhô. Os maiores intérpretes são Francisco Alves, Orlando Silva, Dolores Duran, Marlene, Isaura Garcia, Elizeth Cardoso, Zezé Gonzaga, Dalva de Oliveira, Caubi Peixoto, Angela Maria e Maysa. O primeiro grande sucesso do gênero é "Linda Flor" (Ai, Ioiô), de 1929, composta por Vogeler, Luís Peixoto e Marques Porto, gravado por Vicente Celestino e Araci Cortes. Outros como "Último Desejo", de Noel Rosa; "Eu Sinto Uma Vontade de Chorar", de Dunga; "Menos Eu", de Roberto Martins e Jorge Faraj - e muitos mais. 1922 - (Surgem movimentos de insurreição contra a República Velha) - Na polêmica e então contestada Semana de Arte Moderna de 22, idealizada inicialmente por Graça Aranha e Ronald de Carvalho, mais precisamente entre 11 e 18 de fevereiro, no Teatro Municipal de São Paulo, um dos fatos marcantes do irreverente movimento de cunho antropofágico nacionalista, que buscava, numa primeira tentativa no país, uma identidade própria para a cultura brasileira, foi a apresentação do compositor erudito-popular e regente carioca Heitor Villa-Lobos (1887-1959), diante da orquestra, trajado a rigor mas calçando chinelos, interpretado como ato de ousadia quando, na verdade, estava doente de um pé. 1926 - (Época da Coluna Prestes, em São Paulo) - Em novembro, no Teatro Municipal de São Paulo, acontece o famoso recital da paulista Guiomar Novaes (1894-1979), magnífica pianista de impressionante carreira internacional que durante anos fez contraponto com a colega erudita carioca Magdalena Tagliaferro (1894-1986) - outra espetacular pianista de projeção mundial. Guiomar Novaes já havia sido um dos grandes destaques na Semana de Arte Moderna de 22, interpretando Villa-Lobos, no mesmo Teatro Municipal de São Paulo. Época do governo de Washington Luís - A mais importante soprano lírica da história da música brasileira - Bidu Sayão (1902-1998) - rouba a cena da temporada no Teatro Municipal de São Paulo e abre a temporada lírica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ela começava a pronunciar-se com o requinte e a beleza que a tornariam uma estrela internacional durante décadas. Em 1935, seria escolhida pelo lendário regente Arturo Toscanini (1867-1957) a integrar a Orquestra Filarmônica de Nova York. Em 1938, cantaria para o Presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt, na Casa Branca, em Washington D.C. Em 1995, seria homenageada pela escola de samba carioca Beija-Flor, de Nilópolis. 1930 - (Eclode a Revolução de 1930, que acaba com a República Velha) - Acontece o primeiro grande sucesso do sambista carioca de Vila Isabel Noel Rosa (1910-1937) - "Com Que Roupa", já com toda sua proverbial verve crítica e humorística sobre a vida carioca, marca registrada de toda sua obra. Em 1931, viriam "Eu Vou Pra Vila", "Gago Apaixonado", "Malandro Medroso" e "Quem Dá Mais". Em 1932, conheceria o compositor Vadico, um de seus mais importantes parceiros, com quem faria  alguns de seus maiores sambas como "Feitio de Oração" (1933), "Feitiço da Vila" (1934), "Conversa de Botequim" (1935) e muitas outras. Sua maior intérprete seria  mesmo a cantora 'malandra' Araci de Almeida (1914-1988), desde 1935, sendo que ela, ao regravá-lo em 1950, traria à luz a importância incontestável desse monumental sambista. De saúde muito debilitada durante sua vida inteira, Noel Rosa morreria jovem, aos 26 anos, no dia 4 de maio de 1937, mas deixaria um impressionante repertório de 230 composições. É um nome obrigatório no registro 
da história da música popular brasileira. 1930-46 - (Transição para a Era Vargas) - Época áurea do rádio com seus populares programas ao vivo de música 
de auditório, no Rio de Janeiro, com Ary Barroso (na lendária Rádio Mayrink Veiga), e outros em São Paulo - e as disputas acirradas entre orquestras, os 'cantores do rádio' (Francisco Alves, Orlando Silva, Silvio Caldas e demais) e as 'rainhas do rádio', sendo as cantoras Emilinha Borba e Marlene as maiores. 
Ao mesmo tempo em que a época do rádio marcaria o declínio do choro, esse estrondoso fenômeno musical de massa teria a sua própria decadência com o fim da era das grandes orquestras no Brasil e a chegada da televisão, em 1950. 1938-45 - (O mais famoso cangaceiro, Lampião (Capitão Virgulino) e sua companheira Maria Bonita são mortos, em 1938, entre Bahia e Sergipe) - Período em que o compositor e regente Heitor Villa-Lobos (1887-1959) compõe a Bachiana no. 5 - da célebre série de 9 - para canto e orquestra de violoncelos, sendo esta a mais admirada e tocada de todas, tendo sido, por vários anos, um dos discos mais vendidos nos Estados Unidos. Na época, porém, foi muito atacado pelos críticos brasileiros por este conjunto de obras inspiradas na atmosfera musical de Johann Sebastian Bach (1685-1750), considerado pelo autor um manancial folclórico universal, intermediário de todos os povos. Os críticos consideraram As Bachianas um recuo na obra de quem havia escrito os famosos 14 Choros - escritos de 1920 a 1929 -, obras compostas na inspiração de suas longas viagens por quase todo o Brasil (e seus sertões), durante anos, e por sua paixão e convivência prolongada com os "chorões" cariocas. Ainda que As Bachianas representassem uma valiosa experiência de justaposição de certos ambientes harmônicos e de contrapontos de algumas regiões do Brasil ao estilo de Bach, os Choros foram tidos como um rico material inato para a criação da música autenticamente brasileira. Mas, por toda sua gigantesca obra deixada e seus empreendimentos didáticos sociais, Villa-Lobos é considerado o mais importante gênio musical do continente, no século XX, dotado de uma chama criadora extraordinária que atravessou fronteiras, empolgou críticos e multidões, superando todos os preconceitos. 1939 - (Getúlio Vargas cria a Justiça do Trabalho e o Departamento de Imprensa e Propaganda, DPI) - A primeira e mais importante música exportada aos Estados Unidos e Europa é "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso (1903-1964), e que inaugura o gênero samba-exaltação. 
A música foi gravada por Araci Cortes e depois por Cândido Botelho e Francisco Alves. O Estado Novo ditatorial e nacionalista de Getúlio Vargas, que muito apreciou esse novo tipo de samba, por motivos óbvios e pelo alcance internacional, passa a recomendar aos compositores populares que abandonem o tema da malandragem carioca em suas músicas. Inspirado na típica figura do Rio de Janeiro, e a partir da 'política de boa vizinhança americana', o desenhista Walt Disney viria ao Brasil criar o personagem Zé Carioca. 1940 - (O salário mínimo é instituído por Getúlio Vargas) - No Teatro Municipal do Rio de Janeiro, acontece a primeira regência do maestro e compositor cearense Eleazar de Carvalho (1912-1996). Em julho de 1943, fez sua estréia como regente, no Teatro Municipal de São Paulo, que foi outro grande acontecimento destinado a entrar para a história. Graças ao seu empenho e dedicação, Eleazar teria mais tarde seu nome profundamente ligado ao Teatro Municipal de São Paulo, por décadas. 1941 - (Getúlio Vargas funda a Companhia Siderúrgica Nacional, CSN) - A cantora, atriz e bailarina, nascida em Portugal, Carmem Miranda (1909-1955) é a primeira grande artista brasileira a atingir sucesso internacional. Além de atuar e cantar sambas vestida de baiana estilizada com uma fruteira tropical como chapéu, lançando moda nos Estados Unidos como a Brazilian Bombshell do momento, Carmem Miranda foi um dos maiores ícones mundiais da época, participando, em Hollywood, de filmes como "Serenata Tropical" (Down Argentine Way, de Irving Cummings, 1940), "Uma Noite No Rio" (That Night In Rio, de Irving Cummings, 1941), "Entre a Loura e A Morena" (The Gang's All Here, de Busby Berkely, 1943), "Copacabana", ao lado de Groucho Marx, de Alfred E. Green, 1947 - e outros mais. 1943 - (Getúlio Vargas instala a Fábrica Nacional de Motores, FNM, no Rio) - Em Hollywood, o cineasta e desenhista norte-americano Walt Disney inclui a música "Aquarela do Brasil" , de Ary Barroso, alterando o título para "Brazil", e versão em inglês, com grande sucesso em seu desenho, "Alô Amigos" (Saludo Amigos). O samba-exaltação torna-se praticamente um segundo hino brasileiro e abre definitivamente as fronteiras do mundo para a música brasileira. 1946 - (O general Eurico Gaspar Dutra toma posse na presidência) - A música "Baião", do pernambucano Luiz Gonzaga (1912-1989) - com letra de Humberto Teixeira -, desponta de Norte a Sul do país com a força de um novo estilo musical revolucionário urbano derivado da música de raízes rurais e folclóricas nordestinas. No começo dos anos 50, Luiz Gonzaga é o grande responsável pelo nascimento do baião e por abrir caminho para novos nomes da música nordestina e influenciar a música popular do Sul-Sudeste do país nos anos 60-70. Até o surgimento da bossa nova, o baião foi o gênero musical brasileiro mais influente no exterior.

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